O microbioma, conjunto de microrganismos presentes no intestino, pode ser usado para prever a ocorrência do câncer colorretal – o segundo tipo mais frequente em mulheres e o terceiro entre os homens. É o que aponta uma pesquisa internacional, com participação brasileira, que identificou padrões no microbioma intestinal e detectou associações entre a ocorrência da doença e características dos microrganismos que independem da cultura alimentar das populações estudadas.
A descoberta, publicada na revista Nature Medicine, abre caminho para o desenvolvimento de exames não invasivos capazes de prever a ocorrência da doença.
Sobre o estudo
Os pesquisadores combinaram análises para correlacionar a ocorrência do câncer colorretal com dados do microbioma de 969 pessoas da Alemanha, França, Itália, China, Japão, Canadá e Estados Unidos. Tratando-se de um dos maiores e mais variados estudos sobre o tema.
Os resultados não só estabeleceram conjuntos de microrganismos associados ao câncer colorretal em todas as populações estudadas, mas também indicaram assinaturas no metabolismo microbiano (padrão de metabólitos produzidos pelos microrganismos) que também têm o poder de prever a ocorrência da doença.
No estudo, pacientes com câncer colorretal apresentaram maior presença de bactérias da espécie Fusobacterium nucleatum em comparação com indivíduos saudáveis. A espécie normalmente habita regiões da boca. Era esperado, até então, que o ambiente ácido do estômago fosse fatal para tais microrganismos.
Especialistas comentam que há um aporte maior de espécies orais indo para o intestino em pacientes com câncer colorretal. E que talvez essa migração cause inflamações no intestino, originando o tumor. No entanto, não se sabe ainda o real motivo de elas se transportarem para o intestino, sabe-se apenas que há uma associação entre a presença delas no intestino e o câncer colorretal. Portanto, é algo que ainda precisa ser melhor entendido.
Contudo, a detecção de maior abundância do gene da enzima microbiana nas amostras fecais dos pacientes com câncer mostra uma possível ligação entre a microbiota e os resultados de estudos anteriores sobre a relação da doença com uma alimentação rica em gordura.
No estudo, os pesquisadores analisaram dados sobre a composição e a abundância de todas as bactérias encontradas nas 969 amostras fecais. Para obter um método de análise mais simples, que possa ser usado amplamente em clínicas e hospitais, os pesquisadores conseguiram selecionar as bactérias com maior peso na análise.
A maior análise sobre câncer colorretal
A relação entre microbiota do intestino e saúde humana é uma área de pesquisa que tem crescido, sobretudo nos últimos 10 anos. O novo estudo, no entanto, segue um conceito inovador de utilização de bactérias como marcadores de desenvolvimento de uma doença.
Segundo os pesquisadores, esta é talvez a maior análise sobre câncer colorretal com dados de amostras fecais e com populações tão diversas.




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